Eu vi correndo de mochila nas costas para chegar na hora certa na escola; era sorriso aberto,
abraço horizonte, flor na mão, cartão coração: “Eu te amo professora.”
Eu vi a letra dançar, desenhar com segurança a firmeza do
lápis. Escrevia o primeiro nome. “Professora, já sei escrever
o nome completo.”
Eu vi o olhar brilhando, juntando as
letras, fazendo a primeira leitura. Pipocando
misteriosamente. A professora chorou
de alegria: “Hoje, Maria Leu. Quanta
emoção!”
Eu
corrigi a tarefa feita. Vi o capricho no caderno; a nota final e a passagem do ano.
Eu
vi o olhar triste. O medo e a ansiedade, roupa surrada. Folhas rasgadas. Não tinha material escolar.
Eu vi o desejo de aprender escondido no submundo da vulnerabilidade, lutando contra a fome, almejando uma caixa de lápis de cor,
espalhada na mesa do colega ao lado.
Eu vi a pesquisa; o trabalho apresentado, a maquete construída, a avaliação atenciosa,
a pergunta instigante.
Eu vi a frequência fiel nas aulas de educação
física, correndo com a bola aos pés, driblando o solitário
e externo mundo escolar.
Eu vi o choro do professor, o vermelho no bimestre, a negligência chegar.
Eu vi a escola ficar sozinha.
Eu vi a formatura, a despedida, o agradecimento e o abraço em saída.
Eu
vivi o retorno. A escola sofrendo com o novo desafio. A incerteza pedagógica. Mas, a alegria de estar presente
novamente.
Eu vi a escola desafiante, desafiada, desafiadora.
Eu vi o meu aluno buscando na escola um lugar para ser.
Cristiano Oliveira