sábado, 30 de dezembro de 2023

RETALHOS


De retalhos, forjam-se as  linhas... entrelaçandos aos pedaços o mosaíco renegado.

Trabalhado por incansadas mãos, o tempo ajusta o abandonado da vida.

É o olhar que prevê a costura sigilosa das incertezas; pequenos detalhes.

Tornar-se colcha é possibilidade dos retalhos. 

Julgamento do improvável. 

Nostalgia de um ciclo iminente. 

Gosto de construções guardadas, sem retóricas.

quinta-feira, 3 de agosto de 2023

Tempo

 




Dentro do tempo:

Entre a terra e a semente: a raiz 

Entre a semente e a planta: a folha

Entre a planta e o botão: a abelha

Entre o botão e a flor: o perfume

Entre o fruto e a nova semente: a esperança 

Entre a vida e a existência: Deus

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

EU VI UM ESTUDANTE

 

Eu vi correndo de mochila nas costas para chegar na hora certa na escola; era sorriso aberto, abraço horizonte, flor na mão, cartão coração: “Eu te amo professora.

Eu vi a letra dançar, desenhar com segurança a firmeza do lápis. Escrevia o primeiro nome. “Professora, sei escrever o nome completo.”

Eu vi o olhar brilhando, juntando as letras, fazendo a primeira leitura. Pipocando misteriosamente. A professora chorou de alegria: “Hoje, Maria Leu. Quanta emoção!”

Eu corrigi a tarefa feita. Vi o capricho no caderno; a nota final e a passagem do ano.

Eu vi o olhar triste. O medo e a ansiedade, roupa surrada. Folhas rasgadas. Não tinha material escolar.

Eu vi o desejo de aprender escondido no submundo da vulnerabilidade, lutando contra a fome, almejando uma caixa de lápis de cor, espalhada na mesa do colega ao lado.

Eu vi a pesquisa; o trabalho apresentado, a maquete construída, a avaliação atenciosa, a pergunta instigante.

Eu vi a frequência fiel nas aulas de educação física, correndo com a bola aos pés, driblando o solitário e externo mundo escolar.

Eu vi o choro do professor, o vermelho no bimestre, a negligência chegar. Eu vi a escola ficar sozinha.

Eu vi a formatura, a despedida, o agradecimento e o abraço em saída.

Eu vivi o retorno. A escola sofrendo com o novo desafio. A incerteza pedagógica. Mas, a alegria de estar presente novamente.

Eu vi a escola desafiante, desafiada, desafiadora.

Eu vi o meu aluno buscando na escola um lugar para ser.

 

 

Cristiano Oliveira

sexta-feira, 19 de março de 2021

PERFUME

 


A rosa, em sua beleza

a exalava pelo jardim.

Perguntou ao beija-flor, quando foi beijá-la:

-  Por que os botões, não são iguais a mim?

 

O beija-flor pousou suas asas e a rosa respondeu:

- Veja esses botões. Tu também foste assim!

Ontem mesmo, no cair da noite teu botão chegaste ao fim.

 

A rosa admirada, quase nada compreendeu.

Porém, o beija-flor olhando para rosa

Outra explicação lhe deu:

 

- Não preocupes com isso, pois tudo é passageiro.

Amanhã tu serás diferente deste jeito que amanheceu.

 

O beija-flor em despedida, ainda acrescentou:

-  Veja essas pétalas espalhadas pelo canteiro.

Com o tempo tudo acaba. Mas, não te preocupes!

O importante é viver cada momento por inteiro.

terça-feira, 21 de julho de 2020

O PÊNDULO DO TEMPO


Às vezes me deparo em desencontros.
Recobro o instante;
perco-me no vazio do tempo.
Meus devaneios reforçam o pensamento.
Reflito com o isolamento.
Desdobramentos...
Uma pausa!
Deleito no momento; encantamento!
Saudade é uma tal coisa apertada,
desejada em partir...
Sinto falta da estrada, da curva desconhecida
Do cheiro do vento que sopra no litoral
Tenho saudade doída do abraço.
Do olhar...
Do sorriso...
Não sei o que faço!
Apenas me laço em memórias...
Saudade do não bem vivido
arrependido... aperto doído...
consumido pelo tempo perdido.
Viagens e saídas não saem dos planos.
Rodas de boteco,
beira de calçada,
prosa esticada.
Que venha logo o fim de ano!
Meus devaneios... meus encontros.
Receio pela palavra que aproxima
O ponteiro que o tempo controla.
Ordem ao caos
Existir, me anima.
Neste pêndulo andarilho
Penso no não feito
No sem jeito,
Que move meu peito.
Perco quando me encontro!
Sou apenas o brilho
Da prece
De quando Deus sai do seu esconderijo
E afaga meu rosto tão rijo.

Crisjoli Fingal - Inverno de 2020

domingo, 31 de maio de 2020

FUGIDIAS



Nas areias do deserto
Sem rios e sem paredes
A alma perdida, 
o destino é incerto
A garganta cala em sede.

A solidão é fugidia
E o tempo é uma miragem.
Nessas areias tardias.
Caminhar é uma vantagem.


terça-feira, 31 de março de 2020

ABRIU-SE


Eis abril e aqui estamos neste universo, trancafiados, buscando entender a máquina do tempo. Ela parece engastalhada, quase travada, buscando enquadrar-se dentro dessa nova era. A engrenagem que procrastinou o limite da existência humana e ditou a polarização dos rumos da sociedade pós-moderna não pode mover-se como antes.
Abriu-se o tempo para introspecção; eis a grande verdade! Abriu-se as verdades da paciência, da escuta, da igualdade, do limite e da reflexão. Torna-se verdadeiro o encontro, a divisão das tarefas de casa, a partilha das responsabilidades familiares e da educação dos filhos.
Com alvorecer da verdade percebemos que é mentira a crença que tudo isso é apenas passageiro. É certo que precisamos mudar o estado espiritual, ético, humano e psicológico dessa viagem interior.
Mentira foi a crença de que evoluímos plenamente. Mentira foi que tivemos grandes conquistas. Mentira é o discurso do estado mínimo. Mínimo é o recurso miserável dos pobres e dos marginalizados da sociedade que tem fome, sede e sentimentos.
Chegamos na abissal sombra da solidão e do egoísmo. Encontramos a sombria página da nossa história. Mentira é a de estarmos no fim, e que é Deus quem causa isso. Deus da vida não mata a criação. Deus é paz e confiança! Eis a verdade do amor.
Não é verdade que tudo voltará ao normal. Se alcançamos esse ponto não estávamos bem. Não podemos aceitar com normalidade este estado de barbárie.
Agora estamos numa pausa terrena e esperamos a porta se abrir. Na hora certa ela se abrirá e o rompimento deste casulo nos levará a mudar o mundo, pois devemos sair melhores e transformados.
Ninguém é culpado! Ninguém deve ser condenado. Somos todos navegantes e como nos ajuda a rezar Francisco, estamos no mesmo barco: “Demo-nos conta de estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados mas ao mesmo tempo importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de mútuo encorajamento. E, neste barco, estamos todos.
O que deve abrir-se nesse tempo é o oceano do amor e do respeito, para que, ao fim desta navegação possamos nos aportamos no cais de uma nova existência. Eis a nossa fé e a nossa esperança!
Abre-se abril!!!