terça-feira, 31 de março de 2020

ABRIU-SE


Eis abril e aqui estamos neste universo, trancafiados, buscando entender a máquina do tempo. Ela parece engastalhada, quase travada, buscando enquadrar-se dentro dessa nova era. A engrenagem que procrastinou o limite da existência humana e ditou a polarização dos rumos da sociedade pós-moderna não pode mover-se como antes.
Abriu-se o tempo para introspecção; eis a grande verdade! Abriu-se as verdades da paciência, da escuta, da igualdade, do limite e da reflexão. Torna-se verdadeiro o encontro, a divisão das tarefas de casa, a partilha das responsabilidades familiares e da educação dos filhos.
Com alvorecer da verdade percebemos que é mentira a crença que tudo isso é apenas passageiro. É certo que precisamos mudar o estado espiritual, ético, humano e psicológico dessa viagem interior.
Mentira foi a crença de que evoluímos plenamente. Mentira foi que tivemos grandes conquistas. Mentira é o discurso do estado mínimo. Mínimo é o recurso miserável dos pobres e dos marginalizados da sociedade que tem fome, sede e sentimentos.
Chegamos na abissal sombra da solidão e do egoísmo. Encontramos a sombria página da nossa história. Mentira é a de estarmos no fim, e que é Deus quem causa isso. Deus da vida não mata a criação. Deus é paz e confiança! Eis a verdade do amor.
Não é verdade que tudo voltará ao normal. Se alcançamos esse ponto não estávamos bem. Não podemos aceitar com normalidade este estado de barbárie.
Agora estamos numa pausa terrena e esperamos a porta se abrir. Na hora certa ela se abrirá e o rompimento deste casulo nos levará a mudar o mundo, pois devemos sair melhores e transformados.
Ninguém é culpado! Ninguém deve ser condenado. Somos todos navegantes e como nos ajuda a rezar Francisco, estamos no mesmo barco: “Demo-nos conta de estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados mas ao mesmo tempo importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de mútuo encorajamento. E, neste barco, estamos todos.
O que deve abrir-se nesse tempo é o oceano do amor e do respeito, para que, ao fim desta navegação possamos nos aportamos no cais de uma nova existência. Eis a nossa fé e a nossa esperança!
Abre-se abril!!!

terça-feira, 24 de março de 2020

INQUIETUDE



Meus sonhos e minhas vontades
Minhas angustias e minhas tristezas
Tenho fome e sede, saudades e alegrias
Tenho meus medos e minha fé
Tenho segredos e inquietações.

Sou feito de carne e de sentimentos
Danço livre no canto vazio do meu quarto
Espreguiço no silêncio do meu sofá
Faço leituras para a alimentar o espírito
E no meu fogão cuido dos melhores sabores
Parece tão pouco!

Vivo um universo de ansiedades
Quero gente! Quero conversar!
Quero trabalhar e correr pelas ruas
Sou a máquina impulsionada pelo tempo!

Agora... eu sei que existe o vento
Que toca as cortinas da minha janela.

Sinto o cheiro dos temperos.
Descubro as cores das plantas.
Das melodias preferidas
Que nunca esqueci
Reencontro palavras

Sei que a saudade de um abraço
Não é apenas a falta do calor
Mas minha necessidade de tocar.

Meu mundo é tão maior que o mundo.
Meu tempo é tão menor que o tempo.
Minha oração bem mais forte que minha prece!
Deus, um ser tão presente!
Deus um toque constante!

Tudo em mim tem causado estranhamento.
O porto não é planejamento.
E o coração é minha mão
Que lava todas as minhas lembranças.

Nisso tudo descubro que há muito mais de que sabia
E que a minha casa tem gente
E que a vida apenas pediu - pausa.

Por onde andei durante todo esse tempo?
Tempo? O que fiz de ti?
O que fizeste em mim?