segunda-feira, 26 de setembro de 2022

EU VI UM ESTUDANTE

 

Eu vi correndo de mochila nas costas para chegar na hora certa na escola; era sorriso aberto, abraço horizonte, flor na mão, cartão coração: “Eu te amo professora.

Eu vi a letra dançar, desenhar com segurança a firmeza do lápis. Escrevia o primeiro nome. “Professora, sei escrever o nome completo.”

Eu vi o olhar brilhando, juntando as letras, fazendo a primeira leitura. Pipocando misteriosamente. A professora chorou de alegria: “Hoje, Maria Leu. Quanta emoção!”

Eu corrigi a tarefa feita. Vi o capricho no caderno; a nota final e a passagem do ano.

Eu vi o olhar triste. O medo e a ansiedade, roupa surrada. Folhas rasgadas. Não tinha material escolar.

Eu vi o desejo de aprender escondido no submundo da vulnerabilidade, lutando contra a fome, almejando uma caixa de lápis de cor, espalhada na mesa do colega ao lado.

Eu vi a pesquisa; o trabalho apresentado, a maquete construída, a avaliação atenciosa, a pergunta instigante.

Eu vi a frequência fiel nas aulas de educação física, correndo com a bola aos pés, driblando o solitário e externo mundo escolar.

Eu vi o choro do professor, o vermelho no bimestre, a negligência chegar. Eu vi a escola ficar sozinha.

Eu vi a formatura, a despedida, o agradecimento e o abraço em saída.

Eu vivi o retorno. A escola sofrendo com o novo desafio. A incerteza pedagógica. Mas, a alegria de estar presente novamente.

Eu vi a escola desafiante, desafiada, desafiadora.

Eu vi o meu aluno buscando na escola um lugar para ser.

 

 

Cristiano Oliveira