terça-feira, 21 de julho de 2020

O PÊNDULO DO TEMPO


Às vezes me deparo em desencontros.
Recobro o instante;
perco-me no vazio do tempo.
Meus devaneios reforçam o pensamento.
Reflito com o isolamento.
Desdobramentos...
Uma pausa!
Deleito no momento; encantamento!
Saudade é uma tal coisa apertada,
desejada em partir...
Sinto falta da estrada, da curva desconhecida
Do cheiro do vento que sopra no litoral
Tenho saudade doída do abraço.
Do olhar...
Do sorriso...
Não sei o que faço!
Apenas me laço em memórias...
Saudade do não bem vivido
arrependido... aperto doído...
consumido pelo tempo perdido.
Viagens e saídas não saem dos planos.
Rodas de boteco,
beira de calçada,
prosa esticada.
Que venha logo o fim de ano!
Meus devaneios... meus encontros.
Receio pela palavra que aproxima
O ponteiro que o tempo controla.
Ordem ao caos
Existir, me anima.
Neste pêndulo andarilho
Penso no não feito
No sem jeito,
Que move meu peito.
Perco quando me encontro!
Sou apenas o brilho
Da prece
De quando Deus sai do seu esconderijo
E afaga meu rosto tão rijo.

Crisjoli Fingal - Inverno de 2020

domingo, 31 de maio de 2020

FUGIDIAS



Nas areias do deserto
Sem rios e sem paredes
A alma perdida, 
o destino é incerto
A garganta cala em sede.

A solidão é fugidia
E o tempo é uma miragem.
Nessas areias tardias.
Caminhar é uma vantagem.


terça-feira, 31 de março de 2020

ABRIU-SE


Eis abril e aqui estamos neste universo, trancafiados, buscando entender a máquina do tempo. Ela parece engastalhada, quase travada, buscando enquadrar-se dentro dessa nova era. A engrenagem que procrastinou o limite da existência humana e ditou a polarização dos rumos da sociedade pós-moderna não pode mover-se como antes.
Abriu-se o tempo para introspecção; eis a grande verdade! Abriu-se as verdades da paciência, da escuta, da igualdade, do limite e da reflexão. Torna-se verdadeiro o encontro, a divisão das tarefas de casa, a partilha das responsabilidades familiares e da educação dos filhos.
Com alvorecer da verdade percebemos que é mentira a crença que tudo isso é apenas passageiro. É certo que precisamos mudar o estado espiritual, ético, humano e psicológico dessa viagem interior.
Mentira foi a crença de que evoluímos plenamente. Mentira foi que tivemos grandes conquistas. Mentira é o discurso do estado mínimo. Mínimo é o recurso miserável dos pobres e dos marginalizados da sociedade que tem fome, sede e sentimentos.
Chegamos na abissal sombra da solidão e do egoísmo. Encontramos a sombria página da nossa história. Mentira é a de estarmos no fim, e que é Deus quem causa isso. Deus da vida não mata a criação. Deus é paz e confiança! Eis a verdade do amor.
Não é verdade que tudo voltará ao normal. Se alcançamos esse ponto não estávamos bem. Não podemos aceitar com normalidade este estado de barbárie.
Agora estamos numa pausa terrena e esperamos a porta se abrir. Na hora certa ela se abrirá e o rompimento deste casulo nos levará a mudar o mundo, pois devemos sair melhores e transformados.
Ninguém é culpado! Ninguém deve ser condenado. Somos todos navegantes e como nos ajuda a rezar Francisco, estamos no mesmo barco: “Demo-nos conta de estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados mas ao mesmo tempo importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de mútuo encorajamento. E, neste barco, estamos todos.
O que deve abrir-se nesse tempo é o oceano do amor e do respeito, para que, ao fim desta navegação possamos nos aportamos no cais de uma nova existência. Eis a nossa fé e a nossa esperança!
Abre-se abril!!!

terça-feira, 24 de março de 2020

INQUIETUDE



Meus sonhos e minhas vontades
Minhas angustias e minhas tristezas
Tenho fome e sede, saudades e alegrias
Tenho meus medos e minha fé
Tenho segredos e inquietações.

Sou feito de carne e de sentimentos
Danço livre no canto vazio do meu quarto
Espreguiço no silêncio do meu sofá
Faço leituras para a alimentar o espírito
E no meu fogão cuido dos melhores sabores
Parece tão pouco!

Vivo um universo de ansiedades
Quero gente! Quero conversar!
Quero trabalhar e correr pelas ruas
Sou a máquina impulsionada pelo tempo!

Agora... eu sei que existe o vento
Que toca as cortinas da minha janela.

Sinto o cheiro dos temperos.
Descubro as cores das plantas.
Das melodias preferidas
Que nunca esqueci
Reencontro palavras

Sei que a saudade de um abraço
Não é apenas a falta do calor
Mas minha necessidade de tocar.

Meu mundo é tão maior que o mundo.
Meu tempo é tão menor que o tempo.
Minha oração bem mais forte que minha prece!
Deus, um ser tão presente!
Deus um toque constante!

Tudo em mim tem causado estranhamento.
O porto não é planejamento.
E o coração é minha mão
Que lava todas as minhas lembranças.

Nisso tudo descubro que há muito mais de que sabia
E que a minha casa tem gente
E que a vida apenas pediu - pausa.

Por onde andei durante todo esse tempo?
Tempo? O que fiz de ti?
O que fizeste em mim?