sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

COSTUREIRA

Imagem: José Bezerra Neto – “A costureira” – Mossoró/RN
Museu de Arte de Santa Maria (RS)

Eram linhas
que se perderam deste novelo
roladas ao chão,

prometidas à agulha.
Eram mãos cansadas, laboriosas
que buscavam as pontas dos fios
destinadas à costura.
Eram os consertos nos tecidos rasgados.
Eram as mãos das Terezas e das Joanas
As trêmulas mãos das Marias e das Anas.
Calejadas mãos de Sebastiana.
Miradas com os olhos cansados.
Que não confundiam cores e nem manhãs.
Agora, por onde andam as linhas
Que não tem trem e nem guias
procuradas por todos estes dias.
Linhas dos tricôs e dos crochês
dos abrolhos e dos bordados
linhas que as mãos
costuraram o passado.

Crisjoli Fingal  

EIS A VOZ


Eis a voz que o mundo não compreende.
Que não tem tradução, vocabulário e nem linguagem.
Voz que os perdidos desconheceram.
Voz que a ciência não corroborou.
E que os orgulhosos não comunicaram. 
Voz que os loucos não dançarão.
E que os ocupados não conhecerão.
Eis a voz que as ruas sufocaram.
E os carros atropelaram.
Eis a voz que o amor esquentou.
Que a oração rezou.
Que o inocente brincou.
Eis voz que a alma cantou!
E que só somente o silêncio escutou.
Eis a voz das ondas.
Das fontes invisíveis.
Voz dos santos e dos anjos.
Voz das pedras e dos profetas.
Voz do tempo, do hoje e do nunca.
Voz dos sábios e dos distantes.
Vozes incompletas e inquietantes...
Crisjoli Fingal

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

VELHOS RETRATOS



Se tenho guardados meus velhos retratos
é porque são minhas lembranças, minhas saudades.
Se recordo do passado e se o tenho amado
é porque são minhas infâncias, minhas metades.
Se tenho lá no alto a magia de duas estrelas
elas brilham todos os dias, para eu nunca esquecê-las.
Crisjoli Fingal

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

AURORA



Eu quero pegar a aurora na mão
E sentir a gota do orvalho.
Quero fazer minha primeira oração
Nos primeiros raios da manhã.
Quero ouvir o tecer dos galos
Bendizendo a terra anciã.

Crisjoli Fingal 

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

MENTIRA



Não sei se era Antônio, João ou Maria
Não sei se tinha rosto, pseudônimo ou se mentia
Não sei se era passado, se tinha futuro ou alegria
Não sei se vivia da noite ou se buscava a luz do dia.


Só sei que fraudava os sinais.
Burlava as palavras
Sem consequências finais.

Com sua perna curta
Perdida em discurso impreciso
Apesar de ser astuta
Quando quebrou o paraíso.

Vivia calada,
Em meio à escuridão
Tinha boca de vento
Sopro de silêncio
Garras de gavião.

Tinha medo do pensamento
Quando o discernimento
Disse-lhe: “Aqui não!”

Perdeu para a verdade
Morreu em sua vaidade
Quando a confiança
Não lhe deu mais razão.



Crisjoli Fingal 

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

PÓ DA VIDA

Eis o pó da vida!
Pó que nascemos.
Pó que retornaremos.
Pó que não nos humilha.
Que não nos diferencia.
Pó que não nos marginaliza e nem nos exclui.
Mas, pó que simboliza a origem.
Que guarda nossos passos.
Que suja nossos pés.
Pó das poeiras dos caminhos.
Do deserto da alma.
Pó dos caminhantes.
Dos ofegantes...
Dos orantes!
Pó da fé!
Que purifica os pecados.
Eis o pó que nos ajuda
a reconhecer nossa pequenez,
a abraçar a grandeza divina
no amor misericordioso do Cristo.
Pó das cinzas!
Que tem o verdadeiro tom da vida.
Pó da ressurreição.
Crisjoli Fingal

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

ROTEIROS


Já se foram as rosas
Restando-lhes seus perfumes
Já se foram as horas
Com os roteiros de costumes
Já se foram as abelhas e as borboletas
Que não mais divagam pelos jardins
Por onde ficaram suas colheitas
Se ainda não chegaram até mim?
Cadê a doçura que gerou o mel?
O ponto que alguém encontrou.
Cadê o orvalho que caiu do céu
A gota que a terra não molhou?

Crisjoli Fingal

GENTE

A gente é feito de sonhos
Por isso nunca se pode parar!
É feito de passos...
Por isso hoje aqui. Amanhã acolá.
Feito de tempo. 
Por isso tem saudade. Tem estações.
A gente é feito de palavras, de manias
Tem erros e pecados.
Por isso a gente precisa de perdão.
A gente é feito de defeitos
Mas, também de bênçãos.
A gente é feito de Deus
Por isso que amamos.
Feito de mistérios
Por isso se conhece tão pouco o humano.
É feito de encontros, chegadas e partidas.
Por isso, aqui, todos somos viajantes.
Feito de lágrimas e de sorrisos
Por isso temos dores e alegrias.
Gente tem reservas.
Tem privacidade!
A gente é feito de “oi” e de “olá”!
Gosta de abraços, bom dia e tchau.
Gente é feito do que é de gente.
Por isso natureza surreal.
Crisjoli fingal

domingo, 15 de fevereiro de 2015

CONTENTAMENTO


Na generosidade dos bons ventos
O que me move para outros mares
São o brilho do sol e a pausa do tempo
Vou navegando na rota dos teus olhares
Sem porto, sem destino, sem cais....

Um canto desvirtua os rumos incertos
Chega-se o pôr da tarde e nada mais
Não sei se o amanhã já está por perto
Nem se o céu estará um pouco cinzento
O importante é que no mar aonde eu navego
Com o azul do teu olhar eu me contento.
Crisjoli Fingal

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015