terça-feira, 31 de março de 2015

TALVEZ


Talvez a chama do fogo, não tenha sido feita somente para o pavio.
Talvez a força do vento, não conduza sozinha a vela do navio.
Talvez se sinta a ausência da gota, só quando o copo estiver vazio.
Talvez aquilo que tanto se gosta, não seja algo tão sadio.
Talvez a margem fique mais segura, na próxima curva do rio. 
Talvez se valorize mais a vida, quando se perde a ponta do fio.
Talvez tudo fique tão insignificante, quando não tiver mais desafio.

Crisjoli Fingal

segunda-feira, 30 de março de 2015

VERTICALIZAÇÃO DO PODER

VERTICALIZAÇÃO DO PODER
Algumas coisas que vêm de cima podem não ser tão agradáveis, ao contrário, podem ser perigosas, maldosas, fatais; a “cagada” de um urubu, por exemplo. Alguns podem até achar que foram agraciados com uma porção da sorte; outros, receberam literalmente uma “cagada”. Existem outras questões maiores: a queda de avião, a descarga elétrica dos raios, a queda de corpos celestes, chuvas torrenciais, e outras. Não com demérito é a ação da imposição autoritária do poder.

Quando estas ações implicam na verticalização do poder, a imposição versa no domínio. Os discursos, a implementação destas manobras podem ser perigosíssimas. Muitas vezes fatais. Nada mais fatal do que a imposição para impedir a participação. Este é o perigo dos palanques e dos púlpitos, quando o discurso está impregnado de coação.

Por outro lado, há coisas provindas do alto que podem ser benéficas: a luz do sol, a graciosidade da chuva serena e, por que não, o olhar ampliado de condição de águia. Basta saber que as visões privilegiadas e ampliadas sobre o horizonte não significa que a verticalidade deve impor sobre a horizontalidade. Afinal tudo que é imposto, posto não fica.
Cristiano Oliveira


Nem todos os passos podem ser escutados. 
Nem todos os passos deixam marcas no chão.
Mas todos os passos podem ser encontrados
Quando aos passos, vão o entender das mãos.

Crisjoli Fingal 

sábado, 28 de março de 2015

EPISÓDIO

Talvez as águas se despedem de março sem conhecer seus verões.
Talvez as chuvas não andem mais depressa, mesmo que tenham que florir os corações.
Talvez não tenha mais águas por cima ponte. Nem tenha mais o São Francisco. 
Talvez a gente nem precise atravessar para o lado de lá e nem tenha que correr nenhum risco.
Talvez a gente tenha que viver na correnteza do rio enquanto vai se navegando o nosso amor.
Talvez a corsa nem tenha mais anseios pelas águas e por isso a terra não precise mais de chuva para aliviar o calor.
Talvez não tenha mais arco-íris sobre a plantação e nem as águas movendo moinhos lá rincão.
Talvez não tenha mais prece, porque nada mais molhará o divino amor.
Talvez o gado continue a morrer de sede e a asa branca tenha mesmo que voar do sertão.
Talvez por falta d'água também falte o seu coração.
Crisjoli Fingal

sexta-feira, 27 de março de 2015

PELAS PESSOAS


Decidi caminhar por caminhos terrenos, não pela condição de natureza, ou, pela simples razão de ter de suportar o tempo. Mas, pela existência que impera sobre a vida.
Numa possibilidade quase que surreal são poucos os caminham significativamente pelo chão da humanidade. Poucos são os que transitam suas memórias, seus conceitos e suas esperanças. Poucos são os que olham pra terra e, conseguem ver o nascer, o desabrochar, o florir e padecer da vida. Não como uma injustiça. Afinal morrer é única forma de provar a existência. Só morre quem um dia pode viver.
Num emaranhado de vozes, há aqueles que gritam desesperadamente por um tempo a mais. Outros, têm vozes de louvor, de agradecimento e de reconhecimento pela bondade divina. Estes, muitos destes, na maior simplicidade têm tão pouco das coisas que perecem, mas tem tudo do que os eternizam.
Tem a fé, a graça, a simplicidade. Tem nas mãos chaves indecifráveis aos olhos carne, mas aos olhos do infinito abrem janelas, portas, portões com suas sabedorias. São os homens e as mulheres de santidade. Não estão espalhados nos altos altares, pomposos das cátedras, mas estão espalhados pelas ruas, pelas vielas, pelos campos, pelo chão da terra, espalhando alegria, apertos de mãos, abraços de coração.
Eles já sentiram e sentem o cheiro do chão, o sabor do sol, o sentido da chuva, a força da oração e beleza da humildade. Eles continuam a lutar por amor, porque amam. Lutam pela paz, porque já conheceram a dor. Lutam pela união, porque já tiveram que fugir das guerras. Continuam a acreditar no amanhã, porque já tiveram suas experiências especiais com as coisas sagradas.
A jornada que vão fazendo vai marcando o chão de suas histórias e, vai, ao mesmo tempo, escrevendo seus próprios textos. São testemunhas antecipadas do céu. Por isso, que nunca excluíram a terra e nem desmereceram os homens.
São estas pessoas que estão no meio da gente. Falam como a gente. Inspiram a gente e nos ajudam a caminhar pela terra. São pessoas capazes de nos santificar. Elas nos ajudam a melhorar as palavras. A rever os conceitos e agir melhor do que ontem e melhor do que o hoje.
Estas pessoas têm nome: você; aquela lá; aquele sujeito. São por suas causas que decidi caminhar por aqui. Pois outros caminhos hei de caminhar quando encerrar este. Por isso, jamais desista do ser humano.
Cristiano Oliveira

sexta-feira, 20 de março de 2015

PALAVRAS


As palavras vão se cruzando.
Vão se entrelaçando...
Constituindo-se em outras palavras,
Perdendo por outros sentidos
Ganhando em outros significados.
Vão se fazendo em outras palavras.
Cedendo por outros motivos.
Desviando por outros lados.
As palavras vão se formando
Em outras palavras vão se guiando
Transformando-se em novas frases
Misturando com outras letras
Brigando com suas crases
Vão ficando meio cambetas
As palavras vão partindo...
Aos poucos estão morrendo
Distantes,vão sumindo
Incompreensíveis, estão sendo.
As palavras estão mais raras
Pois poucos são os que as anunciam
Sua importância são tão claras
São por elas que os homens se guiam
As palavras pedem respeito!
São nos diálogos que se firmam
Foi com as palavras que tudo foi feito.
Cristiano Oliveira

sexta-feira, 13 de março de 2015

DEMÔNIOS

Os demônios de hoje não são chifrudos, orelhudos, rabudos... Não carregam grandes garfos e, muito menos, esquentam suas barrigas nos caldeirões ebulientes. Eles se vestem como nós, andam ao nosso lado, sentam-se nas mesmas mesas que nós, ou não. Sabem sorrir... Dominam muitas coisas, inclusive, nossas ideias. 

São demagogos. Escrevem e falam bonito. 
Oram, por vezes, melhor do que nós. 

Os demônios de hoje tiram nosso alimento, nossa humanidade. Espetam nossos direitos e cozinham em banho-maria o nosso tempo. Eles continuam demônios. Zombam de nós e acreditam em Deus. O que os difere, dos da antiguidade, não é o 'inferno', mas a astúcia como ludibriam o ser humano.
Cristiano Oliveira

quinta-feira, 12 de março de 2015


Eu busco pelas fontes inesgotáveis do saber. 
Não somente porque elas me saciam, mas, também, porque elas podem me conduzir para os rios. E estes aos oceanos. É lá que navego o meu ser.



Cristiano Oliveira

quinta-feira, 5 de março de 2015

IMAGINÁRIO


É pouco por demais
Esquecer a indagação
Quando as perguntas ainda não terminaram.
Esta busca insaciável do movimento
Da roda ao seu imaginário
Assim como o som que se perde no eco.
A gota que se cai à terra sofrida.
A angústia da notícia desagradável.
A dor de Pedro ao canto do Galo.
As mãos que lavaram o silêncio de Pilatos.
O caniço da envergadura do bambu
A chegada do vento ao balançar o galho.
A despedida do ninho com a descoberta do voo
A humanidade do Ubuntu
A volta da chave à fechadura.
O nascer do fogo ao riscar do fósforo.
O despertar da vida com a nova ideia.
A fuga das estrelas à magia da Lua.
O desaparecer das cinzas ao despertar da Fênix.
Crisjoli Fingal

domingo, 1 de março de 2015

DEPOIS


Depois de amar,
Aventurou-se em uma nova estação.
Depois da estação,
Estacionou-se o passado em breves despedidas.
Depois da despedida,
Despediu-se sem medo de deixar o olhar.
Depois do olhar,
Olhou-se, profundamente, para o chegar da tarde.
Depois da tarde,
Entardeceu-se com o voo dos pássaros.
Depois do voar,
Voou-se sem se quer saber seu destino.
Depois de saber,
Destinou seu coração para aventuras...
Cristiano Oliveira